quarta-feira, 15 de maio de 2013

LUTA ANTIMANICOMIAL
CCDH debateu Saúde Mental e Internação Compulsória
Luiz Osellame - MTB 9500

                                  Para Rolim internação compulsória é demagogia

O deputado Jeferson Fernandes (PT), presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, destacou a importância do debate desta manhã sobre a saúde mental e a internação compulsória. O parlamentar sublinhou que o encaminhamento sugerido pelo Conselho Estadual de Psicologia do Rio Grande do Sul, juntamente com outras autoridades presentes na audiência pública é de que seja elaborado um manual de fácil entendimento da população dando conta que já existe a previsão legal da internação compulsória e que não há necessidade de termos uma nova legislação  a respeito do tema.

Para o parlamentar hoje existe muita confusão sobre a questão da internação compulsória pois as pessoas, preocupadas com o problema da dependência e suas consequências, se apegam à internação compulsória como se isso fosse resolver o problema. "Hoje ficou nítido aqui, que quando se faz isso tem que vir de um processo e de um esforço de tratamento que se esgotou, que não tem mais alternativa. E mesmo tendo sido esgotado este processo de internação é necessário pensar no processo pós-internação, oportunizando que o usuário não retorne ao mesmo espaço onde a droga é disponibilizada; que a família pactue e participe da recuperação do usuário e se possibilite uma reinserção no mercado de trabalho", sublinhou Jeferson.

Saímos daqui muito satisfeitos e enriquecidos em termos de conteúdo e muito motivados para que toda e qualquer medida legislativa seja acompanhada de parecer de especialistas da área da saúde,  usuários que estão em fase de tratamento, estudantes e população em geral, sob pena de parecer uma medida milagrosa, mas que não passa de demagogia, como é o caso deste projeto em nível nacional que trata da internação compulsória, concluiu o presidente da CCDH.

O deputado Valdeci Oliveira (PT) destacou a complexidade do tema em debate e que a aprovação da proposta do deputado Terra é oportunismo e demagogia. "O tratamento humanizado, com a mor e amizade é a única alternativa", defendeu o parlamentar.

Para o deputado Miki Breier (PSB), não existe solução simples para problemas complexos, como é o caso debatido nacionalmente da redução da maioridade penal. O parlamentar salientou que de forma hipócrita se busca fazer a higienização social,  mascarada de internação compulsória.

Para Cassiá Carpes (PTB) é necessário fortalecer novamente as estruturas debilitadas da família e da escola como forma de prevenção à drogadição.

Especialistas apontam perigo de retrocesso

A professora e membro do Conselho Regional de Psicologia, Maria de Fátima Fischer, sublinhou que o projeto 7663/2010, do deputado gaúcho Osmar Terra (PMDB/RS), que tramita na Câmara Federal, é um retrocesso para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ela destacou que com a aprovação da lei da reforma psiquiátrica muitos avanços foram alcançados, como a implementação da metodologia da redução de danos; a estruturação dos CAPS; aquisição de leitos para entendimento dos usuários e a efetivação de consultórios de ruas. 

Para Maria de Fátima, uma internação compulsória pode ocorrer se seguir os regramentos já previstos na lei de reforma psiquiátrica, sempre com atendimento adequado e respeito aos direitos humanos.

Sandra Fagundes, representante da secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, salientou que a lei que implementou a reforma psiquiátrica foi construída com a participação de toda a sociedade e defendeu que os pacientes sejam ouvidos sempre que se debata a saúde mental e a internação compulsória. "Internação violenta é violação dos direitos humanos. Não podemos criminalizar pessoas doentes e movimentos sociais", alertou.

Sandra referiu que o governo estadual tem trabalhado para ampliar a rede de cuidados para a saúde mental e para os usuários de drogas através do aumento de recursos para os núcleos de atenção básica, ampliação das oficinas terapêuticas como alternativa de vida e contratação de leitos hospitalares. "A internação pode ser feita em determinadas ocasiões específicas, mas não deve ser a única forma de atacar a questão. A política de redução de danos é adequada para cuidar das pessoas usuárias de drogas", concluiu.

Para a presidente do Conselho Estadual de Psicologia do Rio Grande do Sul, Loiva dos Santos Leite, a internação compulsória como está sendo defendida no projeto que tramita na Câmara Federal é absurda e fere os direitos humanos. Para ela os consultórios de rua e a redução de danos são importantes ferramentas para atendimento dos usuários de drogas.

Loiva destaca que o projeto do deputado Osmar Terra impõe tratamento forçado aos usuários de drogas; criminaliza os usuários de drogas; favorece economicamente a rede hospitalar privada que acabará vendendo leitos para o Sistema Único de Saúde para atender os usuários. "A internação compulsória não é uma prática aceitável com a qual iremos concordar em algum momento", adiantou.

O ex-deputado Marcos Rolim destacou que o mérito do projeto apresentado pelo deputado Osmar Terra é que ele consegue resumir em seu texto todos os erros já cometidos ao longo do tempo sobre o tema debatido nesta manhã. "Osmar Terra precisa tirar da legislação psiquiátrica as garantias existentes para garantir o sequestro oficial dos pobres, fazer o higienismo social", alertou.

Para Rolim, se o projeto for aprovado teremos uma nova onda de encarceramento de usuários de drogas, sem levar em consideração que o tráfico rapidamente recruta no exército de reserva aqueles que substituirão os encarcerados na venda e distribuição dos entorpecentes. "Vai se criar ainda a indústria da internação paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em clínicas privadas", sublinhou.

A representante do Conselho estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, Vera Leonardi, salientou que a aprovação do projeto do deputado Osmar Terra que defende a internação compulsória para usuários de drogas pode levar à repetição de erros já cometidos no passado como ocorreu com a segregação dos doentes de hanseníase e tuberculose. Para ela o referido projeto possui inconsistências científicas; privatiza o Sistema Único de Saúde e processa a higienização social.

Vera defendeu a efetivação das deliberações das conferências de saúde; a garantia da implementação de saúde territorial; inclusão de profissional de saúde mental nas equipes de saúde básica; criação de espaços públicos de lazer; protagonismo dos usuários nas políticas antidrogas e criação de uma rede de serviços de emergência para saúde mental.

Rodolfo Malhão, representante da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, sublinhou que nos últimos anos ocorreu um processo de descriminalização das drogas no mundo e que a internação compulsória é uma verdadeira pena a ser descontada pelo usuário de drogas. Para ele é necessário integrar a família no processo de recuperação dos usuários de drogas.

Paulo Ricardo Silva, morador de rua e representante do Movimento de Moradores de Rua de Porto Alegre a internação compulsória representa apenas a segregação social dos usuários.

Reunião ordinária

Na reunião ordinária desta manhã os parlamentares da CCDH aprovaram o parecer favorável do deputado Miki Breier (PSB) ao PL 180/2012, da deputada Ana Affonso (PT), que institui a Política de Atendimento Integrado às Mulheres Vítimas de Violência. 

Participações
Também participaram da reunião ordinária e audiência pública desta quarta-feira os deputados Álvaro Boessio (PMDB), Nelson Härter (PMDB), Stela Farias (PT), Aldacir Oliboni (PT), Ana Affonso (PT), Décio Franzen (PDT), Elisabete Felice (PSDB), além de representantes de conselhos municipais de saúde, especialistas e estudantes, entre outros.

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