sexta-feira, 12 de julho de 2013

Comissão ouve relatos de trabalhadores gaúchos na resistência à ditadura

Luiz Osellame - MTE 9500 - 18:27 - 12/07/2013 - Foto: Marcelo Bertani


A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) e a Comissão Estadual da Verdade realizaram audiência pública, na tarde dessa sexta-feira (12), para ouvir os relatos de quatro trabalhadores gaúchos na resistência à ditadura.

O presidente da CCDH, deputado Jeferson Fernandes (PT), destacou que o objetivo do encontro é justamente dar visibilidade ao trabalho que está sendo desenvolvido pela Comissão da Verdade no Rio Grande do Sul e para que as futuras gerações saibam que muitos brasileiros e brasileiras lutaram e colocaram suas vidas em risco e sofreram para que se pudesse viver com liberdade e democracia.

O coordenador da Comissão Estadual da Verdade RS, Carlos Frederico Guazzelli, agradeceu a presença de todos que participaram da audiência pública desta tarde, principalmente os quatro trabalhadores que se dispuseram em relatar parte das suas histórias. "É importante mostrar primeiro que o Ato Institucional Nº 5 (AI5), o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), entre outros, eram instrumentos da ditadura e contra eles levantaram-se brasileiros e gaúchos para defender a liberdade de todos nós. Estes trabalhadores brasileiros pagaram um pesado preço pessoal por sua militância em favor da liberdade". sublinhou.   

Trabalhadores na resistência

Antonio Espíndola, portuário e sindicalista de Rio Grande, relatou que participa da audiência pública na condição de preso político de 1964. "A causa da milnha prisão foi ter participado ativamente da eleição do presidente João Goulart", afirmou. Preso em Rio Grande, Espíndola foi trazido a Porto Alegre, para um prédio que estava sob controle do DOPS, na Avenida Mauá. Na prisão, era constantemente submetido à tortura física e psicológica para repassar informações sobre o movimento sindical. Após ser libertado, voltou para Rio Grande e recomeçou a trabalhar no Porto, mas por apenas três meses, quando foi demitido por improbidade administrativa.

João Batista Lopes, metalúrgico-soldador, veio de Santo Ângelo para Porto Alegre, onde veio na década de 1960 quando trabalhava de dia e estudava à noite. Em 1968, começou a trabalhar no Estaleiro Só, quando começou a integrar o grupo VAR-PALMARES. Em 1970, foi preso na sua casa e torturado à beira do Guaíba. Levado ao DOPS foi submetido a sessões de choque elétrico e pau-de-arara juntamente com outros companheiros de luta. No dia em que iria ser solto, Pedro Sellig, conhecido torturador, ainda tentou convencê-lo a entregar nomes de companheiros que integravam a VAR PALMARES. "Mas pelo que eu vivi e por tudo que aprendi ainda continuo pronto para a luta, sempre para o bem da humanidade", afirmou.

Orlando Nichele, metalúrgico de Caxias do Sul, militava no movimento estudantil e veio para Porto Alegre em 1967 para dirigir a União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (UGES). Em 1968, foi preso e levado para o DOPS. Libertado, Nichele retornou para Caxias do Sul, onde  iniciou a militância na VAR PALMARES. Em 1970, foi preso em Caxias do Sul e, novamente, foi levado para o DOPS de Porto Alegre, onde foi interrogado sob tortura. No final de 1970 foi libertado e retornou a Caxias do Sul.

Pedro Machado Alves, metalúrgico, começou a sua militância no período da Legalidade, junto à Juventude Operária Católica (JOC). Com o golpe de 1964, os sindicatos dos metalúrgicos sofreram intervenção e os dirigentes tiveram seus direitos políticos cassados. Em 1969, Alves foi preso no bairro IAPI e levado para o DOPS, onde permaneceu por uma semana, período em que sofreu tortura física e psicológica. Após deixar a prisão, continuou a sua militância dentro do Partido Comunista Brasileiro (PCdoB).

Presenças

Também participaram da audiência pública os deputados Aldacir Oliboni (PT) e Raul Carrion (PCdoB); João Carlos Carmona Paz, representante da Defensoria Pública RS; o procurador Carlos D Elia, da Procuradoria geral do Estado; Isadora Trajano, da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres; Maria Celeste da Silva, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos; Maria Cristina Carrion de Oliveira, representante da OAB/RS; Renês Trindade, representante do Tribunal de Contas RS; a professora Celi Regina Pinto, além de representantes da CUT RS, entre outros.

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